9.1.12

raul tavares, um anti-herói

ora bem, eu-raul podia ter sido muita coisa, até porque ainda só tenho trinta e quatro anos. e de facto podia ter sido isto e aquilo depois da escola que nunca devia ter largado. bem me diziam. mas quer dizer, um homem sabe lá o que o espera. e já se vê, pois claro, que na altura eu era mais rapazola e as vontades eram outras. ora bem. e trate-me antes por tavares. como estava a dizer, a melhor coisinha que eu tive foi o trabalho no pingo doce. é evidente que eu nunca devia ter largado aquilo. veja, veja. nem estalar a língua consigo porque me faltam os dentes da frente. veja. nunca devia ter deixado a secção de bebidas. e bem me avisaram, na altura. mas eu. veja, nem um. não há maneira de conseguir um, como se diz? o problema foi que os meus pais se separaram na altura e deu-me para faltar uma e depois outra e outra vez. e não foi por falta de aviso, que eu tinha lá pessoas amigas que me diziam. e eu sei, eu sei que o senhor soares dos santos me queria lá. o que eu, gostava daquilo! e só lá estive um ano, veja lá. um ano. e depois disso nunca mais trabalhei, já vão para cima de dez anos ou coisa que o valha.
agora olhe. vivo com o meu pai e já sou velho. falamos os dois, disto e daquilo. sabe o que foi? foi que a separação deles deu cabo de mim. depois disso, acabou. ainda me inscrevi num curso de mecânica mas para quê? se eu queria era trabalhar nas bebidas. ponha aí tavares, se faz favor. chamam igual ao meu pai mas eu não me importo, é o que é.

  

e depois da relva? arrumar bebidas.


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