no restaurante alfredo faz-se a vida entre pratos e planos entre pedidos. dona alcina que só vê dinheiro e gelhas nas toalhas, agarrou o estabelecimento do passado e empregou os dois filhos. à força.
o rapaz, coitado, que queria ter seguido história de arte e usar colete todos os dias, viu-se para além dos pratos, responsável pela disposição das paisagens bucólicas nas paredes ainda livres. e de colete azul que virava do avesso na ilusão de mudar, no acetinado.
ernesto corria por entre as mesas e que sim aos pedidos. endireitava os quadros e inventava autores que escrevia com todo o pormenor em cartões brancos por baixo da obra. sem a mãe saber, ia desocupando paredes para estender a sua intervenção curatorial. e num certo agosto em que a mãe foi para a figueira, chegou mesmo a fazer uma exposição de posters que comprou na fnac, com o dinheiro das gorjetas, e assim concretizar a sua primeira exposição de arte contemporânea ou não bem.
já a filha, dois anos mais velha, queria ter ido para desporto e serve sempre de sapatilhas. começa de sapatos por causa da vista de dona alcina que ainda é boa no início do dia, mas às tantas já anda veloz, em jeito de marcha por entre as mesas distribuindo pratos que imagina discos e bebendo garrafas de água incompletas em cada mesa desocupada. isaura ouve multidões e nessas alturas sabe que não pode parar. e nos dias em que dona alcina vai para casa contar a fortuna, isaura organiza circuitos de corrida de obstáculos e tem mesmo um sistema de metros, baldes e feijões para treinar maratonas dentro do restaurante.
tirando isto, é chanfana para todos e água com gás para quem quiser. dia-sim, dia-não.
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