rui fortes

há um dia impreciso em que ele decide treinar para ser o mais forte. inicia os treinos com a determinação de um cinturão branco-breve. pendura um saco de boxe à saída de casa para murraças matutinas e indecências dos vizinhos. e desenha um plano de exercícios para força e costas alinhadas. recentemente adquiriu um placar de cortiça para eventuais medalhas e bandeirolas mas ainda só acumulou fotografias às articulações calejadas. não importa.

come massa e mousse. a primeira por tradição desportiva, a segunda porque é feita com ovos crus e isso é o ideal. também come outras coisas quando o convidam.

uma vez por semana, corre desenfreado pelos campos a puxar pelo cão que antes corria mais do que ele. ao fim-de-semana desafia o alvo com o arco e a flecha para os músculos dos braços. e nos feriados treina katas de cuecas e capa no quintal.

quando se irrita não berra, atira com coisas. cada vez com mais força e segurança. e quando acumula cinco lançamentos múltiplos, golpeia paredes e pequenos móveis para os músculos escondidos.

à noite vê vídeos variados de modalidades desportivas de força e repara os danos cometidos. de chinelos e capa.

a mulher, que a tem, não liga. 

a não ser quando é a vez dele de ir buscar o miúdo.