17.9.11

luís marinheiro

ganhou coragem e suor nas mãos e convidou-a para sair. ele achou que ganhava tempo e perfeição se marcassem para sexta. e ela acedeu, do alto dos saltos e do desejo.
ainda assim, ele dormiu mal todos os dias. e no suburbano já só tinha uma mão para se agarrar porque a outra transportava o coração ansioso. e chegou a deixá-lo cair numa travagem de comboio e de vontades incoerentes. recomposto e chegado, mas sem mãos para os sacos, repôs o coração no lugar, furou como pode até à porta mas só conseguiu sair na estação seguinte. que importa. já era sexta e convinha que acertasse no euromilhões mas mais ainda, na camisa que levasse para o jantar. neste não podia haver inconformidade visível. e se a camisa combinasse com a cor das unhas, da saia ou dos sapatos, ele sabia que era meio caminho andado para o sucesso que desabrocharia sentidos e confirmaria prenúncios.
ainda a tempo, passou na casa da sorte mas à porta decidiu gritar para dentro, o meu euromilhões premiado pelas mãos dela! e não jogou.
correu para casa e o coração voltou a ameaçar sair-lhe do peito, pelo esforço e pelos nervos. enfiou a camisa de aposta e abriu até ela-de-saltos. chegou primeiro e fixou os olhos na porta. o coração não se conteve e tingiu a camisa
horas depois, no bar onde os vi pela última vez, estavam sentados na mesa velha da parede vermelha e entrelaçavam as mãos direitas. é que ela usava sapatos e unhas da mesma cor! e enquanto ele enrolava curiosidades de si e do mundo que navegava, ela rendia-se e fazia contas aos sentidos alinhados.  a dada altura, um barco de papel tombado na mesa já vazia.

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