ninguém sabe como é que isto deu para o torto. mas quase todos se comprometeram sem poderem ser fiéis. e júlio barros que o diga. que trabalhou toda a vida para ser marioneta. quando as de pau abalaram. a mulher ainda lhe disse que não devia estar bem mas acabou por lhe passar no corpo aguarrás e óleo de linhaça mês sim mês não.
de maneira que de manhã ainda cedo, júlio barros atava fio norte aos pulsos e outras articulações e seguia nesses preparos para todos os teatros. à tarde fazia as fábricas e à noite manobrava-se como podia em pequenos e deprimentes espectáculos de balcão. ainda assim ganhou fama e depois convites.
percursor na arte e manipulado profissional, conquistou adeptos mas também oportunistas. e foi nessa altura que se experimentou de barro e sediela.
superadas as questões técnicas, faltava-lhe o texto. e encomendou conteúdos a-este-e-àquele bem posicionados. o que dizer tardou em vir e ele publicou um anúncio no jornal:
homem-marioneta aceita o que dizer e fazer,
garantidos os mínimos de independência e autonomia.
garantidos os mínimos de independência e autonomia.
recebeu de tudo um pouco e teve motivos para seis meses. entretanto o país ficou de pantanas e à falta de teatros e fábricas e balcões, arrastou os fios pelo chão enquanto debitava os últimos contributos. a mulher aflita e ele sem aparecer, atou as crianças umas às outras e saiu à procura de júlio. ao virar a esquina, tropeçou em alguns contestatários e entre eles, júlio barros de vida e carne, vitoriosos sobre os outros-enrodilhados nos fios que não os deixavam ser gente.
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