ainda criança intrigava-se com a solidariedade entre os condutores que faziam sinais de luzes por causa da polícia. passava quilómetros a pensar por que razão o fariam. se não se conheciam, se já estavam fora de perigo e se não ganhavam nada com isso. chegou mesmo a pensar no assunto durante um algarve inteiro e na estrada de regresso não dormiu para ver se era mesmo sempre-assim.
quando a viagem foi ao estrangeiro, admirava-se com essa espécie de fraternidade que desencadeava acenos vigorosos, buzinas e alegria nacionais. se nem eram família, se nunca se tinham visto e se nem tinham, eventualmente, as mesmas opiniões. de tal modo que nas viagens seguintes apontava todas as matrículas nacionais e atirava-se para o tabuleiro do porta bagagens a acenar até que o carro desaparecesse no asfalto.
quando já tinha altura e autorização, encolhia-se com a intensidade com que tantas pessoas se abraçavam por causa da selecção. se nem eram eles os jogadores, se nem eram das mesmas equipas e se nem todos eram bem portugueses. mas foi assim que por causa dos foras de jogo falhou tantos abraços agarrada às barrigas dos senhores. e que comemorou outras vitórias, comprimida entre os abraços dos outros.
como nos últimos anos é o que se sabe, faz todos os dias a mala para desistir deste país. mas de cada vez que no trânsito alguém lhe faz sinais de luzes e de aviso, para o bem e para o mal, ela adia a partida.
LINDO
ResponderEliminarÉS UMA ESCRITORA E PÊRAS!!!!
Atribuo a este blog o prémio Inspiração 2011.
ResponderEliminar(Dois dos teus textos mais recentes comoveram-me, mas não vou dizer quais foram, abandono o assunto à suspeita.)
(E houve um outro que guardei, há duas semanas e pico.)
(E )
(E )
(É isso.)
tão grata! pelas pêras, prémios e parciais confidências.
ResponderEliminarConheço essa maria e esse seu estado suspenso de ansiar por uma resposta convincente... desde pequenina que é assim, empoleirada no banco de trás, a olhar o sulco dos dias.
ResponderEliminardisseram-lhe ontem que, agora, olhar é PARA A FRENTE.
Em segredo, desatei aos abraços e festejos a todos que encontrei: nesse dia, éramos todos da mesma família, da mesma equipa, da mesma selecção, do mesmo país. Em segredo.
Ninguém viu o meu coração subir ao céu. Eu própria tive alguma dificuldade, com as lágrimas de alegria a atrapalhar.