23.12.11

myriama de lá

não celebra o natal. perdeu as sobrancelhas, o cabelo e as pestanas. e a senhora da loja insistiu numa maquilhagem de natal. uma maquilhagem de natal? myriama e com razão, sentiu-se perdida em dezembro a ocidente. e onde não fala português que não seja para dentro. 
myriama o que queria, era um lápis para os olhos por ter visto assim em muitas mulheres, lá na escala do bacalhau que nunca provou nem acredita que se coma. mas entre o lápis e as compras dos outros, sentiu-se atordoada e acabou maquilhada. feliz natal, com a cara toda pintada antes do turno das vinte e três às sete?
correu para o autocarro e espreitou a medo, o reflexo. embaciou o vidro e deixou-se escorregar para prender os olhos aos sapatos. feliz natal e depois? e depois, que há-de ser de nós?
foi quando chegou a casa e se viu ao espelho que jurou dormir sem sonhos para que não fizesse quilómetros de noite e sobrancelhas, até à sua terra natal.


tanto mais, que aqui até os comem. os sonhos.



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