ninguém sabe no que te transformas quando pegas no carro. é impressionante como a capa fica sempre presa na porta e tu és sempre exagerada para o lugar do condutor e sobretudo veloz, para a vida dos outros.
se reparares, as conversas mais importantes, tiveste-as dentro do carro. e a melhor versão da tua história tem por baixo os vincos das avenidas que fizeste sem olhar em frente nem a semáforos. tu és sempre de outro tempo.
de noite tens aquele truque de ires agarrada aos máximos porque ainda não sabes como se ligam e mantêm os médios acesos. é aflitivo, mas ninguém se arrisca nas mesmas estradas que tu. e isso confere tempo e espaço a essa tua existência alargada de quem tem sempre uma perna no passado para dois braços no futuro.
e comoves-te agarrada ao volante. por causa do primeiro beijo no andar da avenida ou de todos os recortes que se deram na família. também ninguém sabe que é quando falas mais ainda, ao mesmo tempo que te fazes mais sensata. nota-se sempre na voz. como há bocado, comigo atenta de medo mas contigo cheia de ventura.
dão-se, nessas ocasiões, as melhores partes de nós e ninguém sabe.
e há qualquer coisa que muda e um pedaço de passado que se recupera para sempre.
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