16.2.12

serafim bom dia


era homem de poucos amigos e de fato de treino aos domingos. no inverno, usava daqueles de polar e gorro enfiado o mais que podia. sempre demasiado grande para o banco do condutor, inclinava-se sobre a mulher que o julgava de afectos. enfiava a canalha no carro e lá iam de manhã até ao jumbo. 
até que, ao fazer uma rotunda, pegou-se de bracejos e dedos com um carro de trás, a entornar o domingo ali e assim, naquele alcatrão frio de acidentes adiados. trava e arranca, trava e arranca, o terço a baloiçar, abre a janela, arruma-se para o lado, braços de fora, trânsito lento, o condutor de trás que não sai do carro porque está frio, e pára tudo! chafurda insultos, se se lembrasse, citava o código da estrada, oferece porrada, mas agora não, e o outro a olhar, e o trânsito parado. entra e sai do carro, três vezes que foi a conta que o senhor fez, faz peito de raiva, vai não vai, vai não vai, encara o homem já fora do carro e olhe bom dia, sou o serafim.


ai serafim,
domingos quase santos dos que te apanham nas rotundas.




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