31.3.12

armindo cãs

há vinte anos que ele serve natas e cafés quentes enquanto os clientes levam com a brisa e as riscas na cara. o estabelecimento é familiar, muito sóbrio e limpo e onde não vendem álcool por motivos metafísicos. e passados tantos anos, ele ainda trabalha ali. a envelhecer enquanto as natas arrefecem. e a calcorrear a sua história entre mesas, natas frias e as outras do forno. curva-se e avelha-se sobre o serviço de loiça que ainda não treme mas que nos chega em graça e memórias migalhadas, dele e das manhãs de todos os sábados de outrora e de coragem.
ali, está o tempo em devir. nele. enquanto a brisa e a ria nos lavam as caras à força para que comamos o presente às trincas e suspiros, e olhemos, nítido, o futuro com ou sem canela.

 
cuidado, não te queimes.
 velho e contente a anunciar natas saídas do forno.




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