28.11.11

zacarias


queria agradecer o país que lhe deram. foi nisso que pensou a vida toda e em juntar dinheiro para um dia ir de avião mais a sua, à madeira ver se é verdade. e nem uma coisa nem outra porque há alguns anos que anda nauseado.
antes dava-lhe para o arremesso de rádios à parede se calhava de falar este ou aquele lá do alto da vida sem chão. aos fins-de-semana consertava os menos resistentes, treinava para não ir na conversa de qualquer um e esculpia as mãos de trabalho. nem mais nem menos que a vida era para o que estava.
os anos foram passando e ele com os agradecimentos por entregar lá guardados na gaveta da cómoda com bolinhas de naftalina e celofane por cima. nunca considerou ser dia.
hoje, quando lhe falaram do fado e do património e da humanidade, para ver se ao menos assim o homem ganhava alguma dignidade no corpo, ele perguntou pela greve. a mulher diz que ele está perdido. e ele insiste que é por estas e por outras que se sente nauseado.
oh homem mas nauseado porquê, arreliava-se a mulher. porque tenho mil vísceras no pensamento, ora em vácuo ora dilatadas e todas querem comer do mesmo.

tomara, zacarias, que ainda haja dia
e que não nos embrulhem o futuro de vez.



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