10.12.11

jaime prendiz

nunca foi de ter heróis de vida e muito menos de caderneta. evitava até admirações e outros afagos e sobretudo cartazes de estrelas nas paredes do quarto. é certo que no liceu viu-se quase obrigado a arranjar pelo menos um e a escrever o nome dele até à exaustão com letras estilizadas. isso ou apaixonar-se e escrever o nome dela na mochila. 
optou pela segunda via quando a rapariga o deixou. foi então que começou a ouvir música que lhe ensopasse o desgosto. bem se vê que não é à toa que os heróis-musicais amparam mais e repetidas vezes as fraquezas de cada um. isso ou arranjar trabalho.
também conseguiu trabalho mas há dias em que chega particularmente cansado a casa e embrenha-se em ficheiros de música que o viram do avesso pelos ouvidos e o repuxam para outros planos igualmente circulares. assim por segundos. e depois sente uma bola de calor entre o peito e a barriga de uma nostalgia não sei do quê.
não é difícil perceber que não possa falar disto lá na empresa porque nunca ninguém liga bem a assuntos sobrepessoais. e que prefira evitar o médico a quem teria de mostrar a barriga depois de abrir a camisa com força.


em boa verdade, eu também só o sei porque às vezes ele irrompe a cantar nos ficheiros que selecciono para ouvir na minha bandelete de som, a trinta mil músicas de distância.


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