tinha medo de voar. tanto medo, que se esquecia de malas em todos os estabelecimentos onde se fosse servir. e por essa razão, um mês antes, etiquetava-as para que tivessem, ao menos, destino. o que acontecia é que com a aflição, todos os dias julgava que era dia de voar. então saía com a mala e a dada altura era só céu e pardais.
ainda assim, voava muito muito. obrigada e de mãos atadas, sonolizada e com uma manta pelas pernas, era costume acordar a meio, mas radiante com as miniaturas, entretinha-se até aterrar. depois, enquanto não voltasse a descolar, conhecia isto e aquilo, riscava guias e desencaminhava turistas, tudo muito fino.
mas então maria voa por que voa? milhas, filhas, milhas que acumulei e não destroquei em devida altura. de maneira que maria voa voava todo o ano agarrada aos nervos e nas vésperas, aos tornozelos por ver o mundo inclinar-se com enjoos periféricos.
e amanhã é que lá vai ela,
cheia de coragem, sem capa e sem nada.
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